Dezembro passado completei 1 ano na California, onde estou estudando ‘Product Design’ na Domus Academy. Para mim foi uma ano de intenso aprendizado. Dentro e fora da escola. Criar – e desenvolver – produtos é uma coisa que sempre tive imensa curiosidade. Sempre me pareceu uma coisa mágica, distante. Coisa de americanos, alemães e italianos, com ajuda – na ponta final – dos chineses e suas infinitas fábricas. Sempre me fascinou pensar nas milhares de decisões que tem de ser tomadas para fazer qualquer coisa. De um abridor de lata a um iPad.
Que forma tem esse produto? Onde vai esse botão? Que barulhinhos ele faz? Que luzes acendem? O que vai nessa tela? Que materiais usar? Como vai ser descartado? Todas essas e muitas, muitas outras perguntas tem que ser respondidas. É um trabalhão. Mais díficil que ser pai de criança curiosa. Mas é também uma viagem muito gratificante.
O prazer de ver um produto tomando forma é indescritível. É um pequeno filho que você tem que cuidar muito para crescer bonito e com saúde. E perceber como as pessoas reagem a ele também é muito gratificante.
Depois de mais de 20 anos fazendo propaganda e design gráfico, aprender uma atividade nova é muito bom. E muito do pensamento estratégico que desenvolvi na propaganda e nas artes visuais é aplicado no design industrial também. Além disso, o conhecimento de propaganda ajuda bastante a pensar além do produto. Pensar a marca, os valores que ela representa, seu posicionamento e visão ajuda a criar produtos mais relevantes, memoráveis e que geram boas experiências.
O curioso é que me vejo o tempo todo fazendo analogias entre o que fazia antes e o que faço agora. Comparo cada etapa do processo com o processo de propaganda. E a verdade é que as atividades tem muita coisa em comum. As (boas) brigas com os clientes, são as mesmas. O equlibrio entre a expressão pessoal e olhar meramente funcional é o mesmo. As restrições também bem são parecidas. A grande diferença, na minhão opinião, está na longevidade do que você faz. A propaganda dura pouco – mesmo quando constrói grandes marcas. O bom design atravessa gerações. Mas junto com o legado também vem a responsabilidade. Enquanto a má propaganda pode ser apenas um desperdício de papel, colocar um produto ruim nesse mundo gera um impacto ambiental muito mais negativo. E a pressão por venda leva muitas vezes à profusão de brinquedos inúteis que duram menos que um comercial de televisão. E não faltam exemplos na história.
Nesse ano de design, tive também a sorte de poder fazer projetos muito interessantes e conhecer por dentro muitas empresas aqui na California. Fiquei impressionado com a diferença que o ‘espírito invencionista’ faz aqui. Sem julgar se a ideia do ‘American Dream’ é pura propaganda (no sentido americano da palavra) ou não, a verdade é que seus efeitos são muito benéficos para o país.
Vi um valor muito maior que uma boa ideia tem quando, ao invés de terminar em um prêmio, se transforma em um produto inovador que gera emprego e riqueza para o país. Conheci algumas pequenas industrias que nasceram de uma simples invenção e hoje exportam seus produtos para muitos países. Fiquei impressionado com a simplicidade e eficiência que aspessoas trabalham – e chegam em casa às 5 da tarde, com dia suficiente para ainda fazer um churrasco.
Pude participar de projetos interessantes através do meu curso, como o que fiz para a Swenyo – uma nova marca de produtos de “casa” para estudantes universitários, ou o que desenvolvi para a Polk Audio, uma empresa de equipamentos de som fundada em 1972 em Maryland e que hoje tem seu escritório de design a poucos minutos de onde moro.
Aqui vão alguns desses projetos. Um outro que fiz e gosto muito ainda não posso mostrar. Mas é o que está indo mais longe até agora. Está entrando em fase de protótipo. Ainda tem longos meses de testes e mudanças mas quem sabe logo mais não terei um produto que criei vendido nas amazons da vida e olhando para mim na cozinha da minha casa?
